quinta-feira, 10 de outubro de 2013

Newvelle Vague

Para entrar no clima:


 Well there's nothing to loose,and there's nothing to prove,I'll be dancing with myself

E foi assim que eu saí do cinema,com vontade de saltitar e rodopiar pelos cantos,eis o efeito de Frances Ha em moi.Impossível não sair mais leve depois de assistir  a esse filme tão doce. Já nos primeiros minutos,senti que não ia resistir àquela mistura tão perfeita de Woody Allen e Nouvelle Vague feelings. 

A fotografia preto e branco aliada à trilha sonora eclética com Bowie,Stones,McCartney e Georges Delerue,o maestro oficial da Nouvelle Vague,que musicou pra Goddard e Truffaut,foram demais pra mim. Noah Baumbach , o diretor e roteirista, já tinha minha simpatia, depois de A Lula e a Baleia, e também,  por trabalhar com meu queridinho Wes Anderson, em Steve Zissou e Sr. Raposo.Mas,no final de Frances ele ganhou  um lugar  no meu  vasto coração cinéfilo.

If I looked all over the world,and there's every type of girl,but your empty eyes seem to pass me by
Leave me dancing with myself

Noah fez todas as escolhas certas para o tom do filme,o roteiro despretensioso e a escolha da fofíssima Greta Gerwig para a protagonista foram muito felizes.Greta é de uma naturalidade desconcertante,a personagem desengonçada e gauche poderia ser caricatural e chata nos trejeitos de outra atriz,mas não nos dela. Acho que ela captou bem o estilo meio clown dos primeiros filmes  do Woody e das mocinhas atrapalhadas dos filmes franceses.Frances é real,muito real,ela poderia ser aquela sua amiga estabanada,a sua irmã,a sua vizinha ,alguém que você conhece e tem vontade de levar pra tomar um sorvete.

Frances é a luz do filme,as situações banais ,muitas vezes embaraçosas, soam como pequenos testes pra nossa heroína trapalhona.Os percalços que insistem em atrapalhar os planos da moça acabam virando trampolins da vida,de onde vemos Frances sair um pouco mais madura ,mas com a meiguice resguardada.


So let's sink another drink ,cause it'll give me time to think
If I had the chance,I'd ask the world to dance

A saga de Frances começa uma separação inesperada de sua melhor amiga,que para Frances é parte essencial dela mesma.Após perder a roommate Frances parte em busca de um novo teto e novos amigos e acaba se deparando com vários aprendizados no caminho. A separação da melhor amiga rende ótimas reflexões sobre a amizade feminina,em alguns trechos não pude deixar de lembrar de SATC ,que talvez seja ,até hoje, um dos melhores ao tratar do tema.

Nesse ponto, Frances também é muito certeiro,o foco na mudança da relação entre as amigas nos mostra várias nuances da personalidade de Frances. Essa exposição da personagem, mostrando seus defeitos,dúvidas e angústias gera cenas lindas e nos possibilita uma inegável identificação com ela.  

Numa das cenas que mais me tocou, Frances tenta explicar a uma conhecida seu ideal de amor,com uma explicação tão simples e ao mesmo tempo prolixa,tão verdadeira quanto humana,confesso que nessa cena tive vontade de entrar na tela, apertar as bochechas de Greta Gerwig e dizer:Why so fofa?Não vou  mais detalhar o que se passa,pois o filme é feito de singelezas,de muitos pequenos detalhes,e é a partir desses pequenos momentos que aprendemos  com Frances .

If I had the chance ,I'd ask the world to dance
and I'll be dancing with myself

Outro acerto de Noah foi conseguir reproduzir o lifestyle novaiorquino,os apartamentos descolados,os personagens meio neuróticos , com diálogos rápidos e espirituosos e um toque de ironia.Palmas ,também,para o elenco de apoio,todos afinadíssimos com o clima da película,incluindo nosso já conhecido Adam, de Girls,que deu o ar de sua graça para um personagem parecido com o seu na série da HBO. Outra lindeza do filme são as várias referências cinéfilas dele,grandes lembranças da Nouvelle Vague,através de trocadilhos e cenas  inspiradas,ou vocês acham mesmo que o nome Frances foi escolhido à toa?

With the record selection ,with the mirror reflection
I'm dancing with myself

Pode se dizer ,também,que o filme soe um pouco que nem Girls,ao tentar tecer um retrato charmoso dessa geração meio perdida , confusa e intrigante.Não sei dizer se o retrato é fidedigno ,mas certamente, é muito simpático. Talvez esse seja uma das maiores qualidades do filme,o seu charme.Eu como a boa nostálgica que sou, registro aqui a minha torcida para que mais diretores façam como Noah,busquem no passado novos olhos para o presente,afinal qual conteúdo não fica mais interessante com uma embalagem retrô não é mesmo? 

E ao final do filme ,acho que Frances  nos ensina um dos segredos da vida, que é tentar entrar na dança,acertar os passos e pegar o ritmo,e se não der certo,invente sua própria dança ,crie o seu ritmo,dance a sua coreografia e de algum jeito tudo se arranjará.Afinal,o mestre Woody Allen já escreveu:
"In the end the romantic aspirations of our youth are reduced to, whatever works."

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2 comentários:

  1. Adorei o filme e mais ainda a análise. Precisamos de filmes com essa pegada "simples" para valorizarmos as coisas que realmente importam. =***

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    1. tb acho,achei mt digna a idéia,voto por um mundo com mais filmes honestos e sem grandes marmotas

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