quinta-feira, 6 de março de 2014

Million dollar baby

Para ouvir:


Bom dia comunidade!E aí?Como passaram o Carnaval?Eu, como péssima foliã que sou,arrastei meu bloco pro cinema e gostei do que vi,vou começar do fim,falando do filme preto e branco que vi nessa quarta feira de cinzas.

Tão difícil,tão fácil falar de Nebraska. A dificuldade vem da sensibilidade e do minimalismo do filme,tão bonitos,tão complicados de se descrever.A facilidade fica por conta do apego,do roteiro agridoce,do gostinho de quero mais que o filme deixa na gente.Posso dizer pra vocês que se trata de um road-movie,de uma trama familiar,mas que vai muito além disso,aliás eu diria que Nebraska é todo um outro nível de filme sobre famílias e viagens transformadoras,Alexander Payne,o diretor, jogou nele o melhor do seu estilo,assim meio indie,assim meio drama,assim como a vida.

Nebraska é sem dúvida o melhor filme de Payne,com o melhor que ele sabe fazer,porém com uma precisão e uma honestidade que ele nunca tinha alcançado.Partindo de uma sinopse sem grandes novidades,Payne fez mágica pura,refinou o que poderia ser mais do mesmo e fez um filme capaz de agradar a a gregos e troianos.Há tempos,eu não via reações tão uníssonas,numa sala de cinema,parecia tudo sincronizado,na hora de rir todo mundo riu,na hora de lacrimejar,ninguém escapou e todo mundo pareceu muito satisfeito no final.

Eu,das mais felizes,é claro.Adoro filmes que me comovem,e este é daqueles inesquecíveis.Foi tão lindo de ver,a maneira como Payne entrega os personagens é tão palpável,tão crua,a platéia fica ali colada,olho e coração na tela, e as atuações inspiradas são de aplaudir de pé.Bruce Dern,nosso adorável e teimoso Woody,possivelmente,fez seu papel mais marcante,até hoje.Woody e a odisseia do prometido milhão de dólares desenrolam o cenário pra falar de senilidade,famílias disfuncionais e alcoolismo.


O cenário físico escolhido pra história melancólica,também,não poderia ser melhor,o oeste americano solitário e anacrônico,pintado de preto e branco,repleto de personagens tragicômicos e inundado de nostalgia é o lugar perfeito pra viagem de acerto de contas.A fatídica viagem começa quando David,o filho mais novo de Woody,se dispõe a ajudar o pai a buscar um suposto prêmio em outro estado,contra a vontade de sua mãe Kate,interpretada pela maravilhosa June Squibb.

Como todo mundo já sabe,pra cada quilômetro rodado tem um ressentimento e um afeto na pista,incluindo o épico pit stop da cidade de Hawthorne,terra natal e Woody e palco das melhores cenas da família reunida.A cidadezinha é um fantasma só,cheia de velhinhos  e sonhos perdidos,nela conhecemos as origens de Woody e entendemos os rumos que ele traçou na própria vida.


Não posso deixar de ressaltar a cena na velha casa de Woody,quanta delicadeza,quanta força teve nessa sequência, nela Dern mostra a fragilidade do Woody criança presa nos olhos  confusos do Woody senil.A atuação dele é o pilar do filme,confesso que poucas vezes vi um retrato da velhice tão realista,sem maneirismos,sem apelação,cada olhar atordoado e cada tropeço são significativos e enchem o personagem de carisma e ternura,fico feliz que ele tenha conseguido a premiação em Cannes,foi mais que merecido.Nessas cenas da casa,a inversão de papéis é clara e vemos os filhos guiando os pais e tratando-os como as crianças que um dia foram,é o fim,é o começo,é o fechamento de um ciclo,é maior que o as diferenças,maior que as mágoas,é forte é universal.

O microcosmos americano fica pequeno pra esse drama,porque ele é do tamanho do mundo,do tamanho da nossa humanidade,é nesse ponto que a direção de Payne mais embeleza  a história,o filme pega o comum mas foge sempre do óbvio.Em Nebraska,vemos os detalhes,é um filme de sutilezas,que arranca da realidade os seus ângulos mais tristonhos e bonitos,que nos faz lembrar das dualidades do viver e da fragilidade dos sentimentos,é um filme delicado e por isso mesmo feito para os fortes.Portanto,sejam fortes,vejam Nebraska,pelo o que ele é,um filme merecedor das suas 6 indicações ao Oscar e merecedor de muito mais,mas sobretudo vejam Nebraska pelo o que somos,apenas mais do mesmo,apenas os mesmos e não mais.

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